terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Avó

A minha avó faleceu quando eu tinha 14 anos. Recordo o dia em que partiu. Na sala do primeiro piso estava a família e alguns amigos mais próximos. Quando cheguei agarrei-me à minha mãe e chorei a partida daquela avó, a única que conheci, que adorava e com a qual tenho muitas semelhanças quer no aspecto físico, quer na maneira de ser.
Foi pelo Carnaval que tudo aconteceu e, numa terra onde o Carnaval é vivido ao máximo, fomos para a casa da avó, porque não sentíamos alegria para nos divertirmos e porque, naquele tempo, o luto era respeitado .
A minha mãe foi uma avó ao nível da mãe. Foi ela que criou os meus sobrinhos nos primeiros anos de vida e o meu filho mais velho, no primeiro. Era uma mulher deliciosa, amiga do seu amigo, mãe exemplar e uma avó inigualável. Partiu muito cedo, um mês depois do nascimento da minha filha. Foi um choque brutal para mim, que nunca ultrapassei.
Hoje sou eu a avó de serviço. Tenho dois modelos ímpares, a minha mãe e a minha avó. Os tempos são muito diferentes e o esforço que nos é pedido é muito superior. Para além do tempo que dedicamos aos nossos netos, com todo o carinho e que é muito, temos de ajudar nas despesas, pois os nossos filhos têm ordenados tão baixos e tantas exigências no trabalho que temos de ajudar. Eu ajudo o máximo e como eu , tantas e tantas avós e avôs.
As dúvidas são muitas , o medo de errar está sempre presente, o desejo de não ir contra as decisões dos pais é muito difícil de cumprir. É aqui que reside, para mim, o maior problema. Eu dou mimos e não me arrependo nada disso mas, é preciso ter estômago para ouvir as críticas veladas dos vários elementos da família das crianças. Eu vou aguentando, só pelos meninos. Se assim não fosse há muito que teria rebentado...
Quem deu aulas durante 43 anos a vários níveis de ensino, adquiriu uma prática de educar sem gritos e sem bater, o que não é compreendido por muitos. Com os meus filhos era a mesma coisa. Uma birra em público, resolvida sem dramas e sem palmadas era sempre acompanhada por críticas àquela mãe que não batia nos filhos quando eles bem mereciam...
Fui criada com muito amor da família mas, não consegui fugir a um pai que gritava com todos nós, que traía a minha mãe com qualquer "rabo de saia" e que nos batia, a mim e à minha irmã, por coisas insignificantes. Aos vinte anos ainda levei uma sova.
Talvez seja por todo este passado, em que amor e violência viviam lado a lado, que me recuso a recorrer à violência o máximo possível. Juntando o passado de infância e juventude com os anos de profissão eu teria de ser como sou.
A juntar a tudo isto, há ano e meio que sei ter cancro da mama, já fui operada e passei a viver um dia de cada vez. Como é uma doença fatal, tenho de me ir preparando para o pior , o que acho que nunca se consegue. Assim sendo, quero ser cada vez melhor, corrigir os erros e , acima de tudo, deixar boas recordações aos filhos e aos netos. A estes é mais difícil, pois são muito pequeninos e, certamente irão esquecer a avó. Até porque a avó não deve ser lembrada muitas vezes, depois de partir, e eles esquecerão.
De qualquer modo, eu sou assim, sou carinhosa e relaciono-me bem com os miúdos, por isso é deste modo que desejo continuar a ser. Quem não gostar , paciência...
Esta situação não é única, há muitas avós como eu, ou melhores. O nosso trabalho não é reconhecido e é pena. Não por nos levar a ser ainda mais eficazes mas, para nos sentirmos recompensadas pelos passeios que não fizemos, pelas noites que não dormimos, pelas muitas vezes que não fomos ao cabeleireiro, por falta de tempo e de dinheiro, por..., por ...
De qualquer modo adoro ser avó. Amo os meus netos tal como amei e amo oe meus filhos e sobrinhos. Mas, ser avó é especial, não há nada melhor na vida.

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Estou a ouvir a TV, parece que Jaime Gama já recebeu a pen com o Orçamento de Estado para 2011.
Nunca pensei que chegássemos a esta situação de diminuição dos salários e aumento de impostos. Fui criada com muitas dificuldades económicas, fui habituada a não gastar mais do que o necessário e ainda não esqueci o que me foi ensinado. O que me preocupa é o sistema de saúde. Em Janeiro deste ano fui operada numa clínica privada, pois o tempo era uma variável muito importante. Recorri a uma clínica com acordo com a ADSE, e, mesmo assim gastei cerca de quatro mil euros. A minha pensão de reforma é razoável e para mim chegava. O pior é a situação dos filhos. Embora declare que vivo só, pagando mais impostos, portanto, vivo a contar cêntimos pois tenho de ajudar os filhos , que embora tenham habilitações académicas de Mestre e quase doutor, ganham pouco, especialmente a minha filha que é bolseira de investigação há onze anos. O que se passa comigo é comum a muita gente . É triste que depois de Abril, sejam os pais aposentados a ajudar os filhos , mesmo que habilitações superiores.
O meu filho mais novo não acabou o curso superior. Está na corda bamba. Como tem estado doente, não vai ver o seu contrato renovado em Janeiro, indo fazer parte dos milhares de desempregados deste país. Como vamos viver no próximo ano? Como vou conseguir ajudar a minha gente, tendo a pensão de aposentação diminuída , aumento do IRS, e aumento generalizado dos bens essenciais ? Os gestores que ganham milhões e deixam as empresas chegar à falência não terão um pouco de vergonha na cara e conseguem viver á grande, enquanto os outros compatriotas vêem a sua vida só andar para trás ? Não sou de rancores mas, neste momento odeio essa gente. Que pena Otelo Saraiva de Carvalho não ter feito o que tanto desejava, pôr uma série de gente no Campo Pequeno e baleá-los a todos . Que pena !!